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A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NOS PRIMEIROS 1000 DIAS DO BEBÊ

Fabiana Jarussi

Nutricionista – CRN 11217

 

                                        O nascimento de um bebê é algo esperado e desejado por muitas                                                  famílias. Mas a insegurança pode bater em diversas ocasiões,                                                          especialmente nos pais de “primeira viagem”. A alimentação é uma                                               das questões que mais causam dúvidas, afinal sabemos de sua importância.

 

Você já ouviu falar sobre a importância dos primeiros 1000 dias de vida dos bebês? Esse período engloba os 270 dias da gestação mais os 365 dias do primeiro ano de vida e os 365 dias do segundo ano de vida dos bebês.

 

Os primeiros 1000 dias são a grande janela de oportunidades para impactarmos de forma positiva a saúde das crianças com resultados que serão sentidos ao longo dos anos futuros.

 

Sabe-se hoje que a má nutrição desde o início da vida fetal pode ter um impacto negativo e

irreversível na saúde futura da criança, não só sobre seu desenvolvimento cognitivo, mas também no aumento da predisposição para o aparecimento de doenças como a obesidade, a diabetes, a hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e o câncer.

 

Assim, os cuidados com a alimentação devem ser iniciados durante a gestação. A futura mamãe não precisa “comer por dois”, mas sua alimentação deve ser adequada e equilibrada, evitando-se exageros.

 

Alguns alimentos são muito importantes para a gestante, especialmente àqueles ricos em proteínas, como carnes magras, ovos, laticínios, grãos e sementes. Além disso, frutas frescas, vegetais variados e água em abundância são essenciais.

 

Suplementos podem ser indicados e devem ser discutidos com o médico e o nutricionista, em especial o ácido fólico e o ferro. Gestantes portadoras de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, devem receber acompanhamento nutricional durante todo o pré-natal.

 

Após o nascimento do bebê, os cuidados com a alimentação devem permanecer. Assim, é fundamental que mãe e bebê recebam uma alimentação adequada e nutritiva.

 

Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde (MS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) adotam a recomendação da Organização Mundial de Saúde para que após o nascimento o bebê seja alimentado exclusivamente com leite materno até os 6 meses de vida, sendo mantido até os 2 anos ou mais.

 

Entende-se por aleitamento materno exclusivo, quando o bebê recebe somente o leite materno direto da mama, ou leite materno ordenhado. Nenhum outro alimento líquido ou sólido deve ser oferecido. Ou seja, toda energia e nutrientes que o bebê recebe advêm do leite materno.

 

Vale ressaltar que até os 6 meses a criança não necessita de nenhum outro alimento, incluindo água, chás, sucos, etc. Toda a sociedade, incluindo os profissionais de saúde e familiares da mulher, devem encorajá-la a amamentar.

 

Quando a mulher está saudável e sente-se relaxada e confiante, a amamentação vai bem e sem dificuldades. Além de ser o alimento ideal, o aleitamento materno aumenta o vínculo entre a mãe e o seu bebê.

 

A mulher tem a capacidade plena de amamentar. Qualquer dificuldade ou intercorrência deve ser discutida com o médico e o nutricionista para que estratégias sejam tomadas e para que a amamentação não seja descontinuada.

 

Na impossibilidade da amamentação exclusiva ou em situações onde ela necessite ser complementada, é imprescindível o uso de leites adequados, ou seja, as fórmulas infantis.

 

Encontramos fórmulas infantis de diversas marcas no país. Esses alimentos oferecem os nutrientes que satisfazem as necessidades nutricionais dos bebês, conforme as recomendações das sociedades científicas nacionais e internacionais.

 

Nesses casos, buscar orientação dos profissionais de saúde que acompanham mãe e bebê também é importante, a fim de que a criança receba a fórmula mais adequada.

 

A partir dos 6 meses, o uso exclusivo do leite materno não supri mais todas as necessidades do bebê, sendo necessária então a introdução de alimentos complementares. E é aí que muitos pais ficam inseguros.

Sempre digo aos pais que os 6 meses são uma referência e não um marco para a introdução alimentar. É preciso observar alguns sinais de desenvolvimento que indicam se o bebê está pronto ou não para receber alimentos sólidos.

 

Alguns sinais de prontidão que sempre oriento observar são:

 

·O bebê senta bem sem apoio (ou com mínimo apoio)?

·O bebê perdeu o reflexo de protrusão da língua e não empurra automaticamente os sólidos para fora da boca com a língua?

·O bebê está pronto e disposto para mastigar?

·O bebê está desenvolvendo o movimento de pinça, começando a tentar pegar os alimentos ou outros objetos pinçando-os entre o polegar e o indicador?

·Quando vê alguém se alimentando, o bebê fica ansioso para participar da refeição e pode tentar agarrar comida e colocá-la em sua boca?

 

Estando todos prontos, é hora de colocar a mão na massa e aproveitar ao extremo essa fase encantadora! Trabalhosa também, mas crucial para a saúde e futuro das crianças.

 

A alimentação complementar deve ser introduzida de maneira lenta e gradual. Algumas crianças podem estranhar no início e recusar determinados alimentos. Isso é absolutamente normal, pois trata-se de uma experiência totalmente nova para elas.

 

Vale ressaltar que, caso o bebê não aceite determinado alimento, não se deve insistir ou forçar o seu consumo. O mais importante é que o alimento seja novamente oferecido em outra ocasião. Trabalhamos com o oferecimento do alimento recusado até 20x até a aceitação completa. Por isso, paciência e carinho são fundamentais.

 

As refeições das crianças devem ser variadas e ricas em nutrientes. Para tanto, é preciso incluir alimentos de todos os grupos alimentares: hortaliças e frutas, carnes, laticínios e ovos, cereais, tubérculos e grãos.

 

Os nutrientes de todos esses grupos é que vão permitir que o bebê  tenha um crescimento e um desenvolvimento adequados.

 

Normalmente a introdução alimentar deve começar com a oferta de duas refeições de fruta e uma refeição salgada diariamente durante o primeiro mês. À partir do sétimo ou oitavo mês, acrescenta-se mais uma refeição salgada.

 

A refeição de fruta consiste basicamente de uma fruta ligeiramente amassada ou raspada. Importante oferecer prioritariamente a fruta in natura e não na forma de sucos.

 

Já a refeição salgada deve conter um alimento de cada grupo alimentar:

  • Vegetais (folhas verdes, abóbora, beterraba, quiabo, tomate, cenoura, abobrinha, etc.)

  • Cereais e tubérculos (arroz, batata-doce, batata, inhame, macarrão, mandioca mandioquinha, cará, quinoa, aveia, etc.);

  • Carnes e ovos (frango, peixe, boi, vísceras, ovos etc.);

  • Grãos (feijão, lentilha, soja, ervilha, grão-de-bico etc.).

A alimentação deve ser variada, por isso é interessante oferecer diferentes opções a cada dia. Por exemplo, se hoje teve cenoura no almoço, outro vegetal deve ser oferecido no dia seguinte. O mesmo vale para as refeições com frutas: se pela manhã foi banana, opte por outra à tarde.

 

No início, a consistência da comida deve ser pastosa e ir se solidificando gradativamente. Assim, não de deve liquidificar ou usar a peneira. Basta amassar os alimentos com um garfo.

 

O ideal é que a consistência seja aumentada aos poucos. Logo após o primeiro mês de introdução, os pais podem deixar pequenos pedaços sólidos para estimular a mastigação, aumentando os tamanhos para que ao final do primeiro ano o bebê esteja consumindo a alimentação da família.

 

Outra dica importante é não misturar os alimentos, sem formar uma papa única. A criança deve ver e sentir as diferentes texturas e sabores dos alimentos. Só assim ela vai discriminar os alimentos e ter o movimento da mastigação estimulado.

 

As refeições do bebê podem feitas nos mesmos horários das refeições da família, mas é preciso respeitar o apetite da criança e saber diferenciar sinais de fome de outros desconfortos, como sede ou sono, por exemplo.

 

Além disso, a água filtrada e fervida deve ser oferecida nos intervalos das refeições. No site do Ministério da Saúde ¹ você encontra um esquema de introdução alimentar.

Alguns cuidados são importantes como se evitar o oferecimento de alimentos açucarados, bem como do próprio açúcar, até os dois anos. Alimentos ultraprocessados e excessivamente condimentados e salgados também devem ser evitados.

 

Quanto mais natural for a refeição, melhor será para o bebê e toda a família!

 

Outros cuidados importantes são a higiene absoluta no pré-preparo e preparo dos alimentos e o uso de utensílios adequados e que não oferecem riscos ao bebê, como pratos de plástico, colheres com tamanho adequado e copos com bicos que não desestimulem a amamentação.

 

Os utensílios infantis que possuem ventosas facilitam as refeições e evitam que os pratos e talheres caiam no chão, especialmente se a família optar pela participação ativa do bebê durante a refeição.

 

Zelar para que a hora da refeição da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto junto da família também é muito importante. Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição também tornam o processo mais salutar.

 

Importante lembrar que até os dois anos a criança está formando seu paladar e ainda não tem preconceitos com relação aos alimentos. Assim, os pais devem aproveitar para explorar a maior parte dos alimentos e texturas possíveis nessa fase.

 

Durante esse período os pais ainda têm o controle da alimentação e o bebê vai comer exatamente o que lhe é oferecido. A partir do momento que o bebê ganha mais autonomia e começa seu processo de socialização, isso pode mudar.

 

Portanto, a introdução alimentar é o momento ideal para a formação de hábitos saudáveis.

 

Como os pais sempre são o exemplo para as crianças, sempre reforço que o hábito alimentar e o estilo de vida saudáveis devem ser praticados por todos os membros da família.

 

Conforme a criança for evoluindo e entrando no segundo ano de vida, as refeições ficam mais próximas às da família, mas não de deve descuidar do lado lúdico e da importância dos nutrientes. Mas esse é um tema para um próximo artigo.

 

Aproveite os primeiros 1000 dias do bebê! Faça desse período um momento especial de descobertas e inesquecível para toda a família!

 

Abaixo, apresento uma receita de Petit Suisse de inhame, ótimo para variar a introdução alimentar e para agradar também as crianças crescidinhas com alimentos nutrutivos. Anote aí:

Ingredientes:

2 unidades inhames médios

1 banana bem madura e congelada

8 morangos orgânicos

 

Modo de Preparo:

- Descasque o inhame e corte em cubinhos.

- Em uma panela com água, cozinhe até ele ficar macio.

- Após esfriar, pegue um processador e bata o inhame cozido (sem a água do cozimento) com as frutas.

- Acomode em pequenos potes (adequados à porção que quer servir à criança) e leve à geladeira até ficar gelado antes de servir. Sob refrigeração, pode ser consumidor em 3 dias.

- Você pode variar o sabor e usar outras frutas como manga, mamão, etc.

REFERÊNCIA:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primaria à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primaria à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2019.

Mãe do bebê Amamentação
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